sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Carnaval

Veneza, Carnaval

O Carnaval é festa antiga, com mais de dois mil anos. Do que foi, do que é e do que poderia ser, não sei. Por cá ando há muito afastada das coisas carnavalescas embora, confesse, acompanhe as fantochadas políticas deste país.
Não vale a pena pôr-me aqui a resumir aquilo que está mais do que dito, escrito e rebuscado. Quem quiser saber qualquer coisa sobre a origem e história do Carnaval só tem de ir ao Google - com um bocado de paciência descobrem-se teorias interessantes.
O Carnaval é festa, dizia eu. Festa pagã ou de preparo para o que de cristão há-de vir, pouco importa. Como todas as festas inclui muito convívio, dança, barulho e algum (senão muito) sumo de uva fermentado ou aquela mistela a que chamamos "cerveja" e que será tão velha quanto a descoberta da agricultura. Mas há no Carnaval algo que transcende a festa banal - a máscara, o faz de conta. Sim, eu sei. Usam-se máscaras desde sempre, nomeadamente em rituais sagrados ou outros e que nada têm a ver com o Carnaval. Mas a máscara carnavalesca no mundo ocidental ou por ele influenciado, é a subversão do quotidiano, do eu que não mostro todos os dias porque isso iria contra as regras da sociedade em que vivo; é o caricaturar do outro, daquele que eu gostaria de ser ou que, simplesmente, abomino; é chamariz, é o provocar da atenção alheia, depois de um ano de anonimato.
Carnaval é subverter o pré-estabelecido por instantes. É um breve momento de ruptura na forma, no aspecto, na posição social e crítica mordaz, também, dos que detêm o poder e que expomos de forma ridícula em carros alegóricos - " É Carnaval, ninguém leva a mal!"
Roger Caillois publicou, nas vésperas da II Guerra Mundial, um livro intitulado "O Homem e o Sagrado" que procura explicar, entre outros aspectos, essa manifestação sociológica que é a festa:
"À vida regular, ocupada nos trabalhos quotidianos, sossegada, sujeita a um sistema de interditos, cheia de preocupações, em que a máxima quieta non movere mantém a ordem do mundo, opõe-se a efervescência da festa. (...)Actos interditos e actos exagerados não parecem bastar para marcar a diferença entre o tempo do arrebatamento e o tempo da regra. Acrescentam-se-lhes os actos às avessas. As pessoas esforçam-se por se conduzir de forma exactamente contrária ao comportamento normal. A inversão de todas as relações parece a prova evidente do regresso ao Caos (ao princípio de todas as coisas), da época da fluidez e da confusão." (Edições 70, pp.95 a 119)
Creio que Francesco Alberoni também tem qualquer coisa sobre isto.
Do Carnaval à portuguesa, com umas "brasileiras" semi-nuas importadas e artistas de telenovela, fica-me a imagem das criancinhas trajadas a rigor pela "loja do chinês".
Divirtam-se.

1 Comments:

At sábado, 03 junho, 2006, Blogger Maeve said...

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