sexta-feira, junho 30, 2006

A terra a quem a trabalha!

Ontem aprendi a dar o devido valor a essas gentes que, de costados vergados e enxada na mão, têm a coragem de trabalhar a terra. Sim, coragem e vergonha minha que, agarrada ao balde, olhei desvairada para os quilos e quilos de batatas que era preciso apanhar e transportar. E que lindas batatas! Deitei mãos à obra, suei...mas que prazer depois comer umas quantas cozidas, sem outro tempero que não o sal. Até com casca marcharam!

Jean François Millet



Ensaio sobre a contenção

Não, não vou falar de gases ou de massas obscuras expelidas por ânus humanos, nem tão pouco de verborreias descontroladas que um acender de ânimos suscita. É da outra, da outra contenção...a de sentimentos, de desejos, do eu quero e pronto.

Porque raramente dizemos o que pensamos? Porque raramente expomos o que sentimos? Porque não pedimos o que nos faz falta...aos outros?

Contenção. Aprendemos e não sei muito bem como, que dar largas ao que nos vai na alma pode ser mal interpretado, mal visto. Não queremos ser rotulados de infelizes ou loucos e tememos a chacota dos nossos pares. Escondemo-nos, então, sob a máscara do socialmente correcto e apenas ao amigo/a do peito vamos desenrolando a nossa miséria do momento.Contenção. Aprendemos a calar o que pode fazer de nós seres confusos ou dignos de pena, porque qualquer sentimento negativo verbalizado, gritado, é sinal de desequilíbrio. Aprendemos sim a servirmo-nos da manha para alcançar os nossos fins ou, na falta dela, explodimos em incongruências, provocamos desentendimentos, partindo do princípio que o outro, os outros, deveriam adivinhar o que queremos, o que nos incomoda.

Camas geladas, desencontros em corredores estreitos, provocações, palavras amargas e desnecessárias quando seria tão mais simples um "dá-me jinhos que estou de rastos". Pediriam isso aos vossos colegas de trabalho? Ao vosso vizinho? Ao estranho que passa na rua?
Toca-me...foi isso que me pediu sem falar aquela velhota, no outro dia lá no supermercado. Encostou-se, braço com braço, em frente à bancada da fruta...não havia mais ninguém. Desviei-me...encostou-se. Olhei, sorri e ela falou, primeiro da fruta, depois dos preços e por fim perguntou-me "A menina é feliz?" e o resto veio por arrasto. Não se conteve.

Mas que espécie a nossa, em que a inteligência e suposta racionalidade exigem que o que me faz falta seja calado e que o que me mói dominado!Em alhos esmagados, cama de cebolas...jaz o idiota que chora, que dos fracos não reza a história...

Imagem de Misha Gordin

quarta-feira, junho 28, 2006

Escola paralela

Já estou cansada de tanto ouvir falar dos professores, de tanto ler sobre eles. Afinal o que está mal? Porque razão são eles os eleitos para arcar com as culpas de uma sociedade cada vez mais iletrada?

"O desaparecimento de programas especializados de entrevista e debate; de emissões destinadas a públicos infantis, assim como a presença reduzida de programas de natureza cultural e formativa" são alguns dos incumprimentos detectados na TVI e SIC pelo Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC)..."
(D.N. de hoje)

Ler mais...

segunda-feira, junho 26, 2006

Prémios Darwin

"Apenas duas coisas são infinitas - o Universo e a estupidez humana, e no que respeita ao Universo não tenho grandes certezas".
-Albert Einstein
(Consultor Científico para os Prémios Darwin)

Quem nunca cometeu um acto estúpido e depois se penalizou por isso? Penso que todos nós, em determinadas alturas da vida, já fizemos uma ou outra coisa completamente destituída de bom senso...como pôr em banho-maria uma lata de salsichas fechada ou coisa pior. Mas estamos vivos, não estamos? Logo, não temos qualquer direito a receber um Prémio Darwin mas sim, quanto muito, uma Menção Honrosa.

O que são?
Os Prémios Darwin são homenagens póstumas a indivíduos que por terem cometido actos de uma estúpidez imensa se auto-excluíram da nossa espécie ou ficaram impedidos de passar os seus genes a novas gerações, o que comprovadamente em nada as beneficiaria.
A ideia partiu de um jovem estudante de biologia molecular, Wendy Northcutt: "O princípio fundamental dos Prémios Darwin consiste na celebração da auto-exclusão da raça humana do material geneticamente incompetente. Assim, o potencial vencedor deve morrer ou, pelo menos, ficar incapaz de se reproduzir."(1)
Partindo deste princípio e firmemente ancorado à teoria evolucionista de Darwin, Northcutt começou a pesquisar , a recolher factos reais de pessoas que haviam morrido por pura estupidez e criou um site onde são anualmente divulgados os prémios atribuídos (2). Depois vieram os livros, embora em Portugal só tenha sido publicado o 1º volume pela editora Replicação, que eu saiba.

Condições para a atribuição do prémio
1. A narrativa tem de ser verdadeira (algumas histórias inverídicas vão para a secção "Lendas Urbanas" por serem engraçadas e criativas);
2. O candidato deve exibir uma total falta de discernimento e morrer em função disso ou ficar incapaz de perpetuar a sua espécie (caso fique vivo e capaz recebe uma "menção honrosa").

Um galardoado
"Um homem, de quarenta e dois anos, matou-se perto de Kaiserslautern, quando observava o eclipse total do sol ao mesmo tempo que conduzia. Uma testemunha viu-o andar aos ziguezagues de um lado para o outro, à medida que se concentrava no sol parcialmente oculto. De repente, acelerou e embateu num pilar da ponte. Aparentemente, tinha acabado de pôr os óculos de sol, os quais são suficientemente escuros para eclipsar tudo, à excepção do sol."(3)

Agora toca a concorrer, antes que eu me adiante.

(1) NORTHCUTT, Wendy, Prémios Darwin [Prémios à estupidez humana], Vol. I, Replicação, Lisboa, 2004, p. 2
(3) op cit, p. 205

sábado, junho 24, 2006

Dá-se animal de estimação




Come qualquer coisa, mas tem muito mau feitio.

quarta-feira, junho 21, 2006

O crime perfeito

Sempre atenta às justas angústias das nossas leitoras, que não sabem como se livrar de um marido incómodo e para as quais, por razões financeiras, o divórcio está fora de questão, eu proponho o homicídio. Calma! Eu sei! Seriam presas. Mas eu não vos falo de um homicídio qualquer, com recurso a raticidas ou à banal faca de cozinha...não. Para despachar o legítimo existe um meio natural e insuspeito que logrará os vossos intentos - o colesterol.

Como todas nós sabemos a maioria dos homens come aquilo que a mulher lhe dá e o mais que houver na despensa, no frigorífico, no quarto das crianças, quando não vai por engano/desespero à ração do cão ou do gato.
Aproveitando esta tendência masculina, as caríssimas leitoras deverão ter sempre em casa todo o tipo de alimentos com elevado teor de colesterol, bem como abundância de doçarias (espalhem caramelos e chocolates por toda a casa), refrigerantes e tudo o mais que encontrem, susceptível de os atirar rapidamente para os 200 Kg e entupir as artérias. Esmerem-se nos cozinhados, insistam nas feijoadas, dobradas, nos entrecostos com muita batata frita, nos empadões à base de peles e gorduras de frango... Eu sei lá que mais!
Naturalmente, deverão evitar que os vossos maridos façam qualquer tipo de esforço físico - invistam num sofá confortável, numa televisão topo de gama e adiram à Sport-TV. A actividade sexual deve ser evitada, pois com os nervos resultantes da abstinência eles terão a tendência para comer ainda mais (a partir de uma certa altura, também lhes vai deixar de apetecer cumprir a função...fiquem descansadas).

Atenção, alguns maridos podem começar a sentir-se mal e com um súbito desejo de ingerir saladas. Façam uma pausa de um ou dois dias e depois voltem à carga. Sobretudo não se deixem distrair com queixumes ou com perguntas do género: "Querida, não me achas gordo?"; respondam sempre que não, que gostam dele assim. Por precaução tenham sempre em casa Ultra-Levur e Microlax.

Vai dar muito trabalho, queridas leitoras. Mas se forem metódicas e perseverantes, no espaço de um ano, pouco mais ou menos, surgirá o tão desejado enfarte, uma embolia cerebral ou no mínimo...estoiram.

Nota importante: se o seu marido tem a mania de se armar em cozinheiro ou é do tipo desportivo, a culpa é sua. Use da inteligência e acabe já com isso.

Alterações à imagem do post anterior

Admoestada por um grupo de senhoras da "Frente Católica Revolucionária", sobre o facto de não ter dado a palavra a Maria Madalena na imagem da Última Ceia, venho por este meio informar que a mesma já sofreu as devidas alterações. À Srª Dª Francelina peço desde já as minhas desculpas por não ter levado em consideração o vinho alentejano pois, como deverá compreender, acabaria por ferir outras igualmente justas preferências.

Grata pela atenção de V. Ex.cias, até porque em coisas de religião é sempre bom seguir quem sabe da poda, subcrevo-me atenciosamente,

Maeve

terça-feira, junho 20, 2006

Jesus: toda a verdade

Uma nova teoria ameaça abalar os alicerces da cristandade, causando efeitos ainda mais poderosos que o Código Da Vinci. O historiador grego Patroklus Papagolus, especialista em estudos bíblicos, revelou recentemente toda a verdade sobre os factos que estiveram na origem da crucificação de Jesus:

"O futebol, ao contrário do que alguns autores afirmam, não teve a sua origem na Inglaterra do séc. XIX. Sabe-se hoje que já no tempo dos romanos era muito apreciado pela generalidade dos povos da bacia do Mediterrâneo. O primeiro grande encontro de equipas teve lugar em Cartago no ano 146 a.C. e resultou num desastre, pois os romanos tinham mau perder e inconfomados com a derrota arrasaram a cidade. Foi o fim das Guerras Púnicas. " Papagolus acrescenta: "... é com o imperador Tibério, que se realiza o primeiro campeonato do mundo mediterrânico na província romana da Judeia. Mais por razões políticas do que propriamente desportivas, já que dar uma abada a Roma era afirmação de autonomia, o Sinédrio (conselho supremo entre os Judeus) procedeu a uma criteriosa selecção dos jogadores, tendo escolhido para treinador um carpinteiro de nome Yeshua (Jesus), que apesar de ter fama de agitador com tendências depressivas era bom a pontapear a cabaça (não se usava bola nessa altura).
Infelizmente os resultados não foram os esperados e a equipa romana levou a melhor com um escandaloso 0 a 8.
Os ânimos exaltaram-se e Jesus teve de fugir refugiando-se no monte das Oliveiras, ao tempo um dos locais mais mal frequentados de Jerusalém (o equivalente ao nosso Monsanto). Judas, que nunca lhe perdoou o facto de ter sido posto na bancada dos suplentes, acabou por o denunciar.
Em sua defesa Jesus alegou que o mau desempenho dos jogadores se devia ao facto das vestes, demasiado compridas, prenderem as pernas e de o campo, demasiado arenoso, dificultar a evolução da cabaça. Palavras em vão. No auge do desespero e perante a incompreensão geral Jesus terá proferido a célebre frase, O meu mundo não é deste reino."

Em face destes novos dados sobre a morte de Jesus, torna-se claro que os tempos em que vivemos são de facto os da "Boa Nova" e que o Reino de Deus está entre nós - proliferam os estádios, quais catedrais de oração e penitência; o número de adeptos do Cristo-rei, perdão, do Desporto-Rei cresce de dia para dia; a comunicação social não se cansa de transmitir a mensagem, num esforço de evangelização mais eficaz do que o da IURD. Salve!

Notícia de última hora: O Vaticano já se pronunciou - no próximo Mundial haverá equipa em campo.

Clique para ampliar


sábado, junho 17, 2006

Conclave Obscurum

Um site original, que nos transporta ao estranho mundo artístico do designer russo Oleg Paschenko. Para ouvir com som. Imperdível. Clique aqui

sexta-feira, junho 16, 2006


O Vosso tanque General, é um carro forte

Derruba uma floresta esmaga cem
Homens,
Mas tem um defeito
- Precisa de um motorista.

O vosso bombardeiro, general
É poderoso: Voa mais depressa que a tempestade
E transporta mais carga que um elefante
Mas tem um defeito
- Precisa de um piloto.

O homem, meu general, é muito útil:
Sabe voar, e sabe matar
Mas tem um defeito
-Sabe pensar.

Bertold Brecht
Imagem: Misha Gordin, conceptual photography


quinta-feira, junho 15, 2006

Família agride professora
Docentes decidem não abrir a escola do Lumiar na segunda-feira. Professora repreendeu aluno por deitar lixo no chão e mais tarde foi espancada por familiares. DREL deu indicações para ninguém falar com comunicação social. (Portugal Diário, 11.06.2006).

Comentário do Presidente da República
"São situações lamentáveis, como é óbvio. É uma demonstração de que é preciso fazer mudanças nas escolas, no sistema de ensino", afirmou, sublinhando que "existem vários relatórios internacionais que demonstram a ineficiência" do sistema educativo em Portugal. Cavaco Silva recordou que, no seu discurso de posse no Parlamento, a 9 de Março, elegeu a qualificação dos recursos humanos como um dos cinco grandes desafios que Portugal enfrenta. (TVNET, 13.06.2006)

Parece-me que das duas uma: ou o Sr. Presidente não estava ao corrente do que se tinha passado e utilizou o "parecer da treta nº 235" ou estava a dar uma clara indicação de que o nosso sistema educativo tem de começar a abranger as famílias, principalmente aquelas que não dão qualquer educação aos filhos, nem a têm. Inclino-me mais para a primeira hipótese. Afinal, em época de contenção de despesas, o que seria deste país se tivessemos de implementar cursos de formação para pais e "qualificar recursos humanos" para lhes dar aulas.

Nota suplementar: leccionar em estabelecimentos prisionais é mais seguro do que em algumas escolas portuguesas.

quarta-feira, junho 14, 2006

Arraial

Na noite de 12 de Julho lá fui até Alfama ver dos arraiais e da sardinha assada. Voltei derreada!... e não foi por causa da sangria, que corria farta, nem do chouriço que estalava na brasa. O que me deu abalo foi o preço do pescado. Ora se é coisa que se faça?! Euro e meio por um peixe cheio de espinhas, acompanhado da carcaça rudimentar! Estas inflações oportunistas deixam-me deveras aborrecida. Mas eu já estava à espera que o arraial me saísse caro. Não vi fogueiras, nem marchas e o berreiro das colunas penduradas em varandas, varandins ou em vãos de escada, misturava umas quantas Amálias com um Trance bem batido. Vi sim os papelotes coloridos pendurados, velhotas poisadas às janelas a compensar os dias vazios, gente varina que já não o é a tentar ganhar o seu com a lata de Sagres, de Coca-Cola num remediado caixote com gelo e o frenesim de mesas, de grelhadores e de cozinheiros suados a remexer nas brasas. E a massa quase compacta de gente? E os berros avinhados (acervejados?) em prol da Seleccção Nacional? Não fosse uma Tuna académica ter dado "um ar de sua graça", assim sem mais nem menos, com os cavaquinhos e violas, eu teria acabado a noite insatisfeita.



Alfama 2007: proíbida a entrada a quem seja portador de latas de sardinha, mesmo que vazias.

segunda-feira, junho 12, 2006

O escroto de Colombo

Graças à generosa oferta de uma amiga de longa data, comecei a ler recentemente a "Fortaleza Digital" de Dan Brown.
Publicado em 1998 nos Estados Unidos é um livro de acção e suspense, cujo tema gira em torno de um programa informático que cria códigos invioláveis e da ameaça que este representa caso seja divulgado - isto muito por alto, pois ainda não terminei a leitura do livro. Bom, interessou-me e por isso ainda não o pus de parte como fiz com o Código Da Vinci mas, qual o meu espanto quando em determinada altura da narrativa, é feita a afirmação que na catedral de Sevilha se encontra uma relíquia de Cristovão Colombo - o escroto. O escroto?! Achei estranho. Nunca em tal tinha ouvido falar e, embora não conheça a catedral de Sevilha, pareceu-me improvável e até mesmo ridículo que a Igreja Católica espanhola tivesse como relíquia uma parte das "partes" masculinas do navegador. A ser verdade o escroto teria de ter sido cortado ao cadáver e...enfim, disparate! Mas não é verdade. Será que Dan Brown procurou dar alguma comicidade à narrativa? Reli e não me parece. Aliás a imagem que ele nos dá de Sevilha e da Espanha em geral é muito pouco cómica e nada abonatória: "A fila tinha cerca de dez pessoas, todas elas a empurrar e a gritar. A Espanha não era famosa pelos seus níveis de eficiência e Becker sabia que era bem capaz de ficar ali toda a noite à espera de informações sobre o canadiano." p99
Estou desiludida! Mas em que planeta vive este homem?!


Legenda: Cristovão Colombo, visivelmente chateado com Dan Brown, certifica-se com a mão direita se o escroto ainda lá está.

domingo, junho 11, 2006

José Sócrates elogia discurso de Cavaco Silva

«Tenho este discurso em muito boa conta, já que ele permite vencer o pessimismo de alguns que não respeitam sequer o facto de dez milhões de portugueses estarem a dar o seu melhor»


Dez milhões de portugueses estão a dar o seu melhor???!!! Só se for para, num esforço inaudito, conseguirem que o ordenado chegue ao fim do mês (ou o subsídio de desemprego) e ainda sobrar para pagar à TV Cabo o extra da SportTV. Estou a exagerar, eu sei...mas em exagero, vulgo demagogia, o Sócrates é muito melhor do que eu.

10 de Junho

Como já vem sendo habitual desde os tempos do Estado Novo (altura em que o 10 de Junho passou a ser feriado nacional), lá se realizaram as chatíssimas comemorações do costume - cumprimentos ao Chefe de Estado, discursos, desfile militar. Eu sei que o povo até se pela por estas coisas e que há sempre meia dúzia de velhas histéricas (convenientemente filmadas pela nossa comunicação social) desejosas de pespegarem uma beijoca no governante do momento...mas, não estariamos na altura de fazer algo de diferente? Sei lá, uma gigantesca rave no Terreiro do Paço ou em frente aos Jerónimos, devidamente abrilhantada por bandas nacionais que berrariam o Hino e versos de Camões?! É uma mera sugestão...e a meu ver muito mais ao gosto do futuro eleitorado deste País.
Eu sei que se não fossem efemérides como esta a vida dos nossos militares ainda seria mais aborrecida do que já é - teriam de se contentar com o Dia da Unidade X ou Y, com a visita do Sr. General e por aí fora. Mas que era um grande alívio para o nosso Chefe de Estado era - acabava-se a seca do "beija-mão" e a treta do discurso da treta a exortar os portugueses a não se resignarem perante as dificuldades do País (revolução???!!!).

sexta-feira, junho 09, 2006

Silêncios

Ausência de som? Calmaria num final de tarde após um dia ruidoso? Não. Não é a esses silêncios que me refiro, mas sim a outros - aqueles que acontecem quando menos os desejamos.

Os amantes, Rene Magritte (1928)

quinta-feira, junho 08, 2006

Férias

Porque tardam tanto a chegar? Porque nunca as podemos fazer nas alturas em que mais necessidade delas sentimos? O que eu não daria para, já, agora, de repende, zarpar rumo ao Sul, ao Norte, fosse para onde fosse, desde que deixasse para trás estas paredes...e o PC também, já agora.
Dou por mim a fazer contas aos dias que faltam para o tão ansiado momento da partida. Faço planos de uma organização impecável, mesmo sabendo que por estas paragens a desorganização é um estilo de vida. Onde vou pôr o gato? Drama principal de toda esta futura epopeia.
Mas vão ser só 9 dias...! Sofro com a partida antes de ter lá chegado. Que coisa doentia!


Almograve.
É aqui que quero estar.
É com ela que me quero encontrar.

Mistério divino

Porque razão Adão e Eva são normalmente representados com umbigo?!

Mabuse, séc.XVI

Esta surgiu-me depois de ter lido "24 perguntas sem resposta" no Blogue de Notas

Avaliação de Professores

quarta-feira, junho 07, 2006

Mudanças

Mais outra. Lá ando a arrastar a mobília virtual.

terça-feira, junho 06, 2006

Violência doméstica

Os jornais e as revistas falam dela, da violência doméstica. Sabemos que existe e que não escolhe classes - acontece, simplesmente, entre ricos e pobres, entre cultos e incultos. Sabemos, também, que é demasiado fácil pensar que "portas adentro" não há lei, nem moral que não seja a imposta pelo "código" familiar e que "entre marido e mulher ninguém mete a colher". Tudo fica no segredo dos deuses e da vizinhança, mesmo que haja crianças envolvidas.
Este tema surgiu-me por causa de uma situação que vivenciei há uns 4 anos atrás, difícil de esquecer e que me mantém, de certo modo, alerta pelo receio de uma repetição.
Moro num edifício pacato e no meu patamar existem 3 apartamentos. Um desses apartamentos é habitado por um casal de trinta e tal anos, com 2 filhos menores. Há quatro anos atrás a mais velha das crianças não teria mais do que 4/5 anos e o seu quarto estava ao lado da divisão que me servia de escritório. Naturalmente, no silêncio da noite, todos os sons são ampliados e por isso, muitas vezes, estando eu a trabalhar ouvia as vozes dos meus vizinhos, o ruído das crianças. Mas, o que ouvia, era para mim aterrador - ao deitar a criança tinha birras, chorava, enfim fazia aquele alarido de quem não se quer deitar como muitas fazem e o pai vinha, berrava obscenidades, ameaçava matá-lo...sons abafados...silêncio e mais choro baixinho. Noite após noite a situação repetia-se e eu já nem trabalhar conseguia. Perguntava ao meu marido: "Mas tu não ouves? Isto são lá maneiras de tratar uma criança!". E ele, o meu marido, dizia-me: "Esquece." Não era fácil esquecer e muito menos sentir aquela incerteza de que podia e devia fazer algo...mas que podia ser impressão minha e, sei lá, arranjar problemas a quem não os tinha.
Uma noite, estava eu sózinha em casa, a situação descambou - ouvi claramente gritos abafados de mulher e sons de luta. Assustei-me. Corri para o telefone e liguei para o meu marido: "Vai-te deitar e deixa isso." - disse-me. Não deixei...aquilo não parava. Saí de casa e bati à porta da outra vizinha do patamar: "Ai não me meta nisso...eles que se entendam." Tomei uma decisão e bati à porta dos meus vizinhos gritando: "Pare com isso...não lhe bata mais."
A porta abriu-se e, afogueado, o boçal berrou: "Meta-se na sua vida ou leva também."
Voltei para dentro de casa, peguei no telefone e liguei para a polícia. O diálogo que se segue é no mínimo revoltante:
- Sr. Agente o meu vizinho do lado está a bater na mulher.
- Tenha calma. Já pararam? - respondeu-me a voz ensonada do lado de lá.
- Não sei - disse eu - estou aqui ao telefone consigo.
- Então vá ver e se já pararam descanse.
- Então é assim? Não fazem nada?
- Só se apresentar uma queixa - respondeu o agente.
- Então apresento. Chamo-me .... moro na rua...e quero apresentar queixa relativamente ao andar tal da mesma rua.
- Certo vou mandar aí dois agentes.
Meia hora depois ouvi barulho na escada. Não me contive e abri a porta. Dois agentes da PSP e o meu vizinho trocavam palavras. Um deles disse-me que ficasse dentro de casa, que preservasse o meu anonimato. Não quis: "Assumo a minha queixa...não quero que ele minta." O boçal lá se desvazia em desculpas e ofensas: "Essa senhora é louca. Não se passou aqui nada." A polícia entrou e apenas ouvi "...minha senhora quer ir ao hospital...se voltar a haver queixa você vai preso". Ele chorava, chorava..."é a falta de dinheiro, perdi a cabeça, ela queria pintar o quarto...".
Na manhã seguinte ela bateu-me à porta. Tinha um lado da face negro e disse-me simplesmente obrigada.
Nunca mais ouvi gritos obscenos, insultos ou choros desesperados de criança. A violência acabou ali ao lado. Hoje oiço risos, queixas naturais de miúdos traquinas e a voz de um pai que disciplina com a naturalidade de quem ama os seus. Contudo e quando um grito mais agudo pela calada da noite se faz ouvir, ainda dou por mim com receio de que aquilo se repita (como ontem e daí este post).
Mas não vai repetir-se e sabem porquê? Porque o meu vizinho percebeu, apesar do seu cérebro diminuto, que não pode usar da violência contra os seus sob pena de alguém denunciar os seus actos.
Muitos casos de violência doméstica teriam fim se aqueles que os testemunham tomassem a devida atitude. Na maior parte das vezes as vítimas não se queixam e os maus-tratos perpétuam-se no tempo, perante a indiferença de quem sabe que eles acontecessem. Depois, são as tais notícias da criancinha que morreu, da mulher que levou um tiro...e sim, suspeitava-se de qualquer coisa...a tia desconfiava...a velhota do lado deu conta disto ou daquilo. Que vergonha!

segunda-feira, junho 05, 2006

Confesso

Confesso que não gosto de futebol (sei...já tinha dito), nem de telenovelas e que cada vez que ligo a televisão percorro milhentas vezes os canais na esperança de algo que me desperte o interesse. Aqui, acolá um documentário, um filme com "pés e cabeça", uma série com piada...invariavelmente nada. Serei difícil de contentar? Talvez. Na mesa de cabeceira uma pilha de livros, uns por acabar outros por começar...Inconstância. Salto de uns para outros, salvo as raras excepções que devoro em dois, três dias no máximo, compulsivamente. Dou algumas voltas pela casa, sacudo um tapete, lavo uma loiça, poiso em frente ao computador e lá vou eu na pesquisa de uma palavra, de uma notícia, de seja o que for que me abra as portas da diversidade e me dê algo de novo a conhecer.

Confesso que não gosto de futebol e que a rotina me seca. Pego no carro e vou porta fora, estrada fora, procurar à beira-mar o cheiro da maresia e o silêncio ruidoso da natureza. Ali, a dois passos da areia, onde o mar bate por hábito, a palavra rotina perde significado e chama-se, apenas, vida.

Confesso que tenho medo dos pontos finais parágrafos e que sempre apreciei as vírgulas, os pontos de interrogação...mas, nem todo o texto obedece à mesma pontuação e por vezes, o tal do ponto final acontece, porque a mão já não comanda a pena.

Confesso que não gosto de futebol....

O Mundial...da bola, claro.

Já começou ou é impressão minha? Suspeito que sim, embora a exibição da nossa bandeira em varandas e janelas possa induzir-nos em erro - afinal serão a expressão de resistência local a uma ameaça de invasão alienígena?

Não gosto de futebol ou melhor até lhe acharia piada se não me fosse proporcionado em doses industriais. Sim, porque tudo o que é demais enjoa! Pelo menos a mim, mas não de certeza aos adeptos ferrenhos da modalidade que, ao menos assim, esquecem as misérias quotidianas e se sentem galvanizados pelas vitórias (quando as há, bem entendido). É tudo uma questão de adrelina, sem drogas (excepto a bejeca) e sem sair do meiple. Mais, arranja-se matéria de conversa em vez de se dizer coisa nenhuma - o que pode ser chato e conduzir à lengalenga habitual de que o dinheiro não chega ao fim do mês e de que "Maria" é uma sarna.

Afinal e embora não se compare ao Colosseum romano, nem se atirem pães aos espectadores, a futebolada cumpre a mesma função de preenchimento e descarga. Melhor que isto só o aparelho digestivo.

sábado, junho 03, 2006

Como eu devia estar, agora.

sexta-feira, junho 02, 2006

Elogio do Optimismo

"O pessimista vê a dificuldade em cada oportunidade; o optimista a oportunidade em cada dificuldade." Albert Flanders
Perdi a paciência para a lamúria e para o discurso do "coitadinho". Não há caminhos fáceis, nunca houve e os da nossa mente são os mais difíceis de percorrer. Mas, acreditarmos que somos incapazes e que a vida é um sobressalto constante, adversidade à menor distracção e que a cada dia nos temos de arrastar para um outro dia...carambas, chateia!
O optimista é aquele que, conhecedor das suas capacidades (e todos as temos) e movido pela paixão do sonho em que acredita, vira as costas ao incrédulos, aos que lhe empatam a vida com palavras amargas e discursos da treta, e vai à luta. Não é sob a alçada do medo, da insegurança ou de um conformismo por vezes masoquista que o mundo "pula e avança".
Ser optimista é olhar de frente a vida, saber dizer basta na altura certa e dar uma volta de 180º se for preciso. Acreditar que o dia de amanhã vai ser melhor, que os desaires são meros acidentes de percurso e dar o exemplo da coragem e da perseverança. Que melhor legado podemos deixar aos nossos filhos?