sexta-feira, abril 28, 2006

1º de Maio, em Portugal

quinta-feira, abril 27, 2006

Alterações

Estou a alterar o layout do blogue. Isto requer paciência...

Manipuladores e manipulados

O texto anterior deixou-me a pensar mais do que deveria sobre o assunto. Acabei por dar mil e uma voltas no Google..."manipulação", "manipuladores", etc, etc. Confesso que não gostei do que li e por uma simples razão: aquilo que eram suspeitas, converteram-se em certezas. Digamos que se fez luz sobre o óbvio e quando estas certezas se adquirem, a imagem que temos do mundo das relações humanas leva uma volta séria. Eu explico melhor...
Todos nós, de uma forma ou de outra, consciente ou inconscientemente, já manipulamos os outros em determinadas alturas da nossa vida. A infância é uma dessas alturas - a criança serve-se de determinados comportamentos (birras, amuos) para obter o que deseja e porque aprendeu, com a experiência, que resultam...até ao dia em que os pais deixam de ceder e pronto. Na idade adulta, quando o emocional trabalha a 100/hora, também pode acontecer assumirmos atitudes manipuladoras..."se fizeres isso não te volto a falar"; "ai é assim?! então vais ver"...
O que me incomoda verdadeiramente, não são estas tentativas espontâneas e, quase diria, próprias do nosso irracional, de manipulação do outro. O que me incomoda é a manipulação consciente, premeditada e, claro está, a patológica. E esse tipo de manipulação acontece, infelizmente, tanto ao nível da governação de um Estado, como entre duas pessoas. Dar conta desse processo não é fácil, em especial se o manipulado está predisposto a acreditar na pureza das intenções alheias, o que muitas vezes acontece.
A quem possa interessar aqui fica um link para um site em espanhol sobre o tema (o layout é fracote, mas o conteúdo ajuda a perceber o que aqui escrevi): http://www.acosomoral.org/

Estratégias de manipulação

Andava eu a pesquisar artigos sobre marketing, quando dei de caras com um sobre estratégias de manipulação da opinião pública e da sociedade. O referido artigo, que transcreverei já de seguida, aplica-se na perfeição à realidade portuguesa:

"1- A estratégia da diversão
Elemento primordial do controle social, a estratégia da diversão consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e da mutações decididas pelas elites políticas e económicas, graças a um dilúvio contínuo de distracções e informações insignificantes. A estratégia da diversão é igualmente indispensável para impedir o público de se interessar pelos conhecimentos essenciais, nos domínios da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. "Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por assuntos sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar, voltado para a manjedoura com os outros animais" (extraído de "Armas silenciosas para guerras tranquilas" ) .
2- Criar problemas, depois oferecer soluções
Este método também é denominado "problema-reacção-solução". Primeiro cria-se um problema, uma "situação" destinada a suscitar uma certa reacção do público, a fim de que seja ele próprio a exigir as medidas que se deseja fazê-lo aceitar. Exemplo: deixar desenvolver-se a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público passe a reivindicar leis securitárias em detrimento da liberdade. Ou ainda: criar uma crise económica para fazer como um mal necessário o recuo dos direitos sociais e desmantelamento dos serviços públicos.
3- A estratégia do esbatimento
Para fazer aceitar uma medida inaceitável, basta aplicá-la progressivamente, de forma gradual, ao longo de 10 anos. Foi deste modo que condições sócio-económicas radicalmente novas foram impostas durante os anos 1980 e 1990. Desemprego maciço, precariedade, flexibilidade, deslocalizações, salários que já não asseguram um rendimento decente, tantas mudanças que teriam provocado uma revolução se houvessem sido aplicadas brutalmente.
4- A estratégia do diferimento
Outro modo de fazer aceitar uma decisão impopular é apresentá-la como "dolorosa mas necessária", obtendo o acordo do público no presente para uma aplicação no futuro. É sempre mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro porque a dor não será sofrida de repente. A seguir, porque o público tem sempre a tendência de esperar ingenuamente que "tudo irá melhor amanhã" e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Finalmente, porque isto dá tempo ao público para se habituar à ideia da mudança e aceitá-la com resignação quando chegar o momento. Exemplo recente: a passagem ao Euro e a perda da soberania monetária e económica foram aceites pelos países europeus em 1994-95 para uma aplicação em 2001. Outro exemplo: os acordos multilaterais do FTAA (Free Trade Agreement of the Americas) que os EUA impuseram em 2001 aos países do continente americano ainda reticentes, concedendo uma aplicação diferida para 2005.
5- Dirigir-se ao público como se fossem crianças pequenas
A maior parte das publicidades destinadas ao grande público utilizam um discurso, argumentos, personagens e um tom particularmente infantilizadores, muitas vezes próximos do debilitante, como se o espectador fosse uma criança pequena ou um débil mental. Exemplo típico: a campanha da TV francesa pela passagem ao Euro ("os dias euro"). Quanto mais se procura enganar o espectador, mais se adopta um tom infantilizante. Por que? "Se se dirige a uma pessoa como ela tivesse 12 anos de idade, então, devido à sugestibilidade, ela terá, com uma certa probabilidade, uma resposta ou uma reacção tão destituída de sentido crítico como aquela de uma pessoa de 12 anos"(cf. "Armas silenciosas para guerra tranquilas" ) .
6- Apelar antes ao emocional do que à reflexão
Apelar ao emocional é uma técnica clássica para curtocircuitar a análise racional e, portanto, o sentido crítico dos indivíduos. Além disso, a utilização do registo emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para ali implantar ideias, desejos, medos, pulsões ou comportamentos...
7- Manter o público na ignorância e no disparate
Actuar de modo a que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para o seu controle e a sua escravidão. "A qualidade da educação dada às classes inferiores deve ser da espécie mais pobre, de tal modo que o fosso da ignorância que isola as classes inferiores das classes superiores seja e permaneça incompreensível pelas classes inferiores" (cf. "Armas silenciosas para guerra tranquilas" ).
8- Encorajar o público a comprazer-se na mediocridade
Encorajar o público a considerar "fixe" o facto de ser idiota, vulgar e inculto...
9- Substituir a revolta pela culpabilidade
Fazer crer ao indivíduo que ele é o único responsável pela sua infelicidade, devido à insuficiência da sua inteligência, das suas capacidades ou dos seus esforços. Assim, ao invés de se revoltar contra o sistema económico, o indivíduo se auto-desvaloriza e auto-culpabiliza, o que engendra um estado depressivo que tem como um dos efeitos a inibição da acção. E sem acção, não há revolução!...
10- Conhecer os indivíduos melhor do que eles se conhecem a si próprios
No decurso dos últimos 50 anos, os progressos fulgurantes da ciência cavaram um fosso crescente entre os conhecimentos do público e aqueles possuídos e utilizados pelas elites dirigentes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o "sistema" chegou a um conhecimento avançado do ser humano, tanto física como psicologicamente. O sistema chegou a conhecer melhor o indivíduo médio do que este se conhece a si próprio. Isto significa que na maioria dos casos o sistema detém um maior controle e um maior poder sobre os indivíduos do que os próprios indivíduos. "

segunda-feira, abril 17, 2006

Realidade Virtual


Esposo, em versão Ghost Recon (estudo em Fireworks)

Estou sentada. Há minha frente um monitor e um teclado. Toco no "mouse", escolho um icone e clico. Magia!!!!
Nunca os nossos antepassados imaginaram tal coisa - o mundo ao alcance de um simples gesto...um gesto que não é tão simples quanto isso.
Através da World Wide Web vamos onde nunca fomos, sabemos o que desconheciamos e depejamos bocados de nós em espaços longínquos tornados próximos...por um click.

Saíndo do quotidiano monótono, entro em guerras impossíveis e saio vitoriosa de batalhas travadas com gente desconhecida, gente de Londres, Tóquio, Riad...porque tudo, ou quase tudo é possível na World Wide Web.

Mas tenhamos cuidado porque a realidade virtual pode tomar conta de nós e sobrepôr-se à existência, não menos virtual mas nem sempre tão prazeirosa.

Carmelinda Maria e o gato


Lapa, 1954

Carmelinda Maria agarra o gato. Sorri sem grande vontade enquanto o bichano esperneia. O fotógrafo é persistente e teima:"Aguente...aguente."

Carmelinda Maria não cai do parapeito onde está sentada. Nem nunca caiu ao longo da vida. Passou por muitas ruas, algumas vazias como a que lhe serviu de cenário com o tareco...mas nunca caiu.

Carmelinda Maria não foi feliz, nem nunca o foi. Apenas conheceu breves momentos de contentamento, feitos de sonhos e teimosia. Nos entretantos, berrou a sua insatisfação aos quatro ventos, deixou milhentos pratos por lavar e bateu o pé sempre que pode e não pode.

Carmelinda Maria, costureirinha, bailarina em tempos vagos, matriarca feroz, foi cremada no dia 1 de Setembro de 2005. O gato finou-se muitos anos antes, chamava-se Sansão e serviu de adubo no Jardim da Estrela.

Ego

sábado, abril 15, 2006

A Paixão de Cristo

Ontem, a RTP1 presenteou-nos com duas doses de Cristo - uma soft, a do Franco Zefirelli e outra bem ao estilo gore, do Mel Gibson. A primeira dose estava bem enquadrada no ambiente devoto que a Páscoa cristã exige, mas a segunda tem muito que se lhe diga.
"A Paixão de Cristo", que já deu muita polémica, é no meu entender um vivo exemplo de filme para amantes do gore ou do BDSM, uma vez que retrata ao pormenor tortura e sangue. Que o tal de Cristo sofreu, já sabemos. Que a crucificação era amplamente aplicada pelos romanos aos casos de traição idem (recordemos Spartacus e outros). Que a tortura tem sido praticada pela nossa espécie aos seus semelhantes ao longo dos séculos, idem. Mas expôr essa suposta realidade do retalhar de carnes, da violência, do sangue que espirra, sem outra mensagem que não seja a do desgraçadinho...e quantos não houve e não há que sofreram e sofrem do mesmo ou pior...cheira-me a Colosseum moderno.
É certo e sabido que o Homo Sapiens é o único do reino animal que mata por matar e retira prazer do sofrimento alheio. Isso explica as elaboradas formas de tortura que inventou e os espectáculos de sofrimento e morte que atraíam tanta gente até à invenção da televisão.
Verdade seja dita, quando todos abrandam no IC19 para melhor ver o acidente ou quando um jovem de 18 anos me diz que se fez bombeiro voluntário porque lhe dá gozo andar nas ambulâncias do 112...está tudo explicado.
"A Paixão de Cristo" vale por uma coisa - é uma oportunidade de ouvir Línguas mortas, como o Aramaico e o Latim, faladas na descontração de um quotidiano. A ser verdade, é como que uma viagem ao passado.

Páscoa

Mais um evento no calendário religioso ao qual não ligo nenhuma e por uma razão muito simples: não sou nem cristã, nem católica. Embora a separação Igreja/Estado tenha sido determinada em 1911, continuamos inexplicavelmente a incluir no calendário oficial festividades estritamente religiosas, com direito a feriado nacional. Para explicar melhor esta incongruência não me contenho que não poste aqui o seguinte:
"Artº 4º- A República não reconhece, não sustenta nem subsidia culto algum; e, por isso, a partir do dia 1 de Julho de 1911, serão suprimidos, nos orçamentos do Estado, dos corpos administrativos locais e de quaisquer estabelecimentos públicos, todas as despesas relativas ao exercício dos cultos." Lei de 20 de Abril de 1911.
Bom, conceder feriado na Sexta-feira (dita santa), mais uma tolerância de ponto da Quinta-feira é o quê? Subsídio indirecto? Mas eu sou suspeita nestas coisas de religião... em especial quando dei com a trasladação da Lúcia (a dos Pastorinhos de Fátima) a ser transmitida em directo pelos 3 canais nacionais. É que fiquei com a sensação de que devia converter-me, sob pena de ficar à margem, do não fazer parte do grupo. Adiante, que a Páscoa é mais do que um "mea culpa" com pena do Salvador.
A Páscoa é sobretudo uma excelente altura para gastar mais uns dinheiritos nos tais ovos de chocolate, embrulhados em papel brilhante e piroso; nas amêndoas "tipo francês" confeccionadas por atacado (já existem as light? não sei) e num borrego ou cabrito manhosos, a preço de saldo. Tudo isto "ao seu dispôr num hipermercado próximo de si".
Ok, estou a desprezar a tradição. Que seria do povo português sem estas "tradições"? Que pretextos arranjaria para espairecer, conviver em família? Muito poucos. Siga a novela.