quarta-feira, março 05, 2008

OPAAFTF - 1ª parte


OPAAFTF são as estranhas iniciais de um curso não menos estranho do IEFP, para activos qualificados, que dá pelo nome de "Orientação Pedagógica, Acompanhamento e Avaliação na Função do Tutor da Formação". O referencial deste curso, composto por mais de 50 páginas, encontra-se no portal do IEFP e data de 2004, sem que qualquer alteração tenha sido introduzida até ao momento. O curso, em linhas muito breves, é um misto de formação de formadores, funcionamento das organizações e gestão da formação e possui um percurso formativo de 800 horas, 400 delas em contexto de trabalho (estágio). Os conteúdos programáticos de cada módulo são vastos e cada formador trabalha-os conforme entende, quando entende. Acima dos formadores há um coordenador do curso, com funções burocráticas e que na prática dá apenas seguimento a papeladas dos formandos - recibos de despesas, justificações de faltas, etc -, mas que em termos pedagógicos não faz absolutamente nada. Penso que devo ser mais clara e é o que vou fazer.

Nos finais de Outubro, por indicação do Centro de Emprego de Sintra, fui remetida para um curso para activos qualificados do IEFP que iria realizar-se no Centro de Formação Profissional da Amadora. No local e em entrevista com o "psicólogo" de serviço - Dr. Amadu Djaló - verifiquei que o horário do referido curso (das 14h às 20h) me colocava sérios problemas - sou mãe divorciada e não existe nenhum ATL na minha área de residência que fique com crianças até às 21h, hora a que chegaria a casa. Perante este problema e dado que estes cursos não são programados tendo em conta a existência de vida para além do desemprego, o referido "psicólogo" disse-me que teria de aceitar outro curso qualquer, sob pena de perder o subsídio de desemprego. A solução foi enfiarem-me no OPAAFTF, que iria começar dentro de poucos dias e cujo horário, das 8h às 14h, me permitiria continuar a acompanhar as filhas. Foi assim que ingressei neste curso, a despeito da minha formação e experiência profissionais - professora profissionalizada, com largos anos de experiência, e webdesigner - por receio de perder o subsídio de desemprego. Verdade seja dita que o referido curso nada me dizia, nem tão pouco acrescentava...mas isso não era importante para aqueles que me obrigavam a fazê-lo. Era apenas necessário que os precisos burocráticos se desenrolassem sem grandes chatices para os responsáveis do IEFP. E assim foi. Lá malhei no OPAAFTF, sem apelo nem agravo!

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Desemprego de licenciados versus "formação" compulsiva.

A precaridade dos vínculos laborais atinge cada vez mais portugueses e o conceito de emprego tende a ser substituído pelo de trabalho, bem como o de funcionário por colaborador; as formas de contratação e até mesmo as políticas governamentais favorecem essa mesma precaridade. Até aqui nada de novo. Mas, qual o destino daquele que perde o seu posto de trabalho ou, até mesmo, daquele que procura o seu primeiro emprego...perdão, trabalho? A primeira coisa a fazer é inscrever-se num Centro de Emprego - obrigatório para quem queira usufruir do subsídio de desemprego; natural para quem tem a esperança de obter trabalho ou uma qualquer orientação no sentido de favorecer a sua empregabilidade. O que acontece depois da dita inscrição? Só posso referir o caso dos activos qualificados, licenciados ou bacharéis, porque é o que conheço de perto e acredito que muitos se irão rever naquilo que vou aqui a narrar.

Um belo dia recebemos uma cartinha em casa a convocar-nos para uma reunião no Centro de Emprego (1), reunião essa que engloba vários licenciados e que se realiza de forma rápida e eficiente, com um despejar de cursos para "activos qualificados" promovidos pelo IEFP. Digo despejar, porque explicações sobre o referencial dos ditos cursos não as há, nem tão pouco horários da sua realização. De igual modo não é estabelecido um perfil do licenciado, não importa a área de estudos que possui, nem é feito um despiste das suas necessidades de formação, se as houver. Pede-se, apenas, que olhemos para os módulos de formação que compõem os vários cursos e que façamos uma escolha. Essa escolha é obrigatória para aqueles que beneficiam do subsídio de desemprego, logo, a não aceitação de um um curso implica a perda do mesmo. Por isso há que escolher, mesmo que os referidos cursos não interessem para nada.
As opiniões àcerca destes cursos do IEFP variam consoante a situação do desempregado - há aqueles que consideram uma mais valia porque, afinal, trata-se de formação de borla e ainda por cima com uma bolsa de formação no valor de cerca de 200€ (apetecível para quem não tem subsídio de desemprego, dado que aos restantes a mesma é descontada ao dito); depois há os outros que ainda têm a esperança que o referido curso lhes traga a hipótese de saírem da situação em que se encontram; finalmente há os mais do que batidos nisto, que já fizeram vários cursos e que fazer mais um ou menos um sempre é melhor do que ir bater cartas para um jardim público.
Mas que cursos são esses e que valor têm? Os cursos têm nomes pomposos e vagos e são invariavelmente os mesmos de alguns anos a esta parte: "Gestão de Microempresas"; "Gestão de Instituições Sociais"; "Novas Tecnologias aplicadas à gestão Empresarial", etc, etc. O seu significado é quase nulo e lança a confusão em potenciais empregadores, até porque a panóplia de conteúdos programáticos é, muitas vezes, um bocadinho disto e daquilo, resultando em nada de concreto. A empregabilidade no final destes cursos é praticamente nula (salvo se houver a bendita cunha, claro está).
Voltando aos potenciais formandos, ditos activos qualificados desempregados, uma dúvida se impõe - se já de si muitos são rejeitados pelo mercado de trabalho por excesso de habilitações, para que servem afinal estes cursos imprecisos e impostos? A resposta é simples - retiram automaticamante números das estatísticas de desemprego e fornecem dinheiros comunitários a uma catrefada de gente (formadores, coordenadores de formação, mulheres da limpeza e afins) que de outro modo não teriam outro remédio senão recorrer à Segurança Social. Ou seja, os miseráveis vivem à conta de outros tantos miseráveis e só aos ingénuos escapa este processo de "ecossistema neo-liberal".

(1) Centro de Emprego de Sintra

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segunda-feira, março 03, 2008

Em jeito de preâmbulo

Há silêncios que valem por mil palavras, diz-se. O meu silêncio não vale nada, foi a conclusão a que cheguei.
Quando criei este blog a intenção era o puro entretenimento, o escrever para mim mesma, num suporte diferente do habitual, sobre o que me desse na telha. Muitas coisas aconteceram entretanto e, pensei, há que denunciá-las... Mas como, quem vai querer saber?! A blogosfera está saturada de gente que fala e fala e fala de tudo e de nada e ao mesmo tempo de muita coisa - lê-se um post aqui e ali, acha-se piada ou nem por isso, comenta-se ou não e fica-se assim mesmo. Nem outra coisa poderia ser. Seria muita pretensão esperar que o verbo promovesse algo mais do que isso mesmo...o verbo. E eu quero mudanças, acções, o impossível seja aqui, seja onde for e não será pelo que eu digo que essas mesmas mudanças ocorrerão, nem tão pouco os actos necessários....Daí o meu silêncio! Mas, porque esse silêncio de nada vale, cheguei à conclusão de que, mesmo assim, devo quebrá-lo. Não espero nada, porque o nada é a constante imutável que pauta a vida da maioria de todos nós, aqui e agora, neste país sem eira nem beira, mas que julgamos moderno embora submerso em publicidades enganosas, políticas pseudo-democráticas e doses cavalares de inércia. Fico por aqui e vou a factos.