sexta-feira, setembro 15, 2006

Gênesis

Regresso à escola

Não como aluna, mas sim como professora.
Após dois anos afastada do ensino eis-me, novamente, numa escola. Flutuei na alegria do regresso, mas agora há que pôr "os pés na terra" e encarar uma realidade que pode destruir o sonho...se deixar-mos. É que muita coisa mudou nestes tais dois últimos anos em que vi de longe o ensinar e aprender em Portugal. O trabalho, que já era muito, aumentou - vive-se na escola, agora, e continua-se a trazer trabalho para casa. Mas não é o trabalho que me incomoda. Não é o ter 300 alunos que me afecta, embora não saiba ainda como farei para chegar a todos eles, se é que isso é possível. O que me incomoda é a tristeza de todo um grupo profissional que perdeu o respeito dos seus concidadãos. Regressei à escola com alegria e encontrei tristeza! Ninguém me falou no novo Estatuto da Carreira Docente...ninguém se queixou do número de horas de trabalho ou da burocracia...ninguém reclamou de horários, do número de alunos por turma ou das poucas horas disponíveis para leccionar programas enormes! A tristeza resumia-se única e simplesmente a uma só realidade: nós, aqueles que temos por misssão contribuir para formação de futuras gerações, estamos desacreditados perante pais e alunos e isso reflecte-se nas nossas aulas com mais indisciplina e com menos empenho na aprendizagem.
Não quero generalizar. Não estou noutras escolas para saber o que se sente e pensa. Mas tive a sorte de calhar numa "escola-modelo", daquelas que com poucos recursos fazem milagres e onde o ambiente de trabalho é excelente. Contudo sei, pelos contactos que tenho mantido com colegas de outras escolas, que o sentimento é o mesmo - a tristeza pela perda do respeito.
Começo a dar aulas na próxima Segunda-feira. A minha vontade de estar e trabalhar com os jovens é imensa, mas...! É que nestas estratégias políticas, muito pouco democráticas, o dividir para reinar com base em interesses que escapam à maioria dos cidadãos têm o pior de dois resultados - gerações ignaras, limitadas aos "Nabos com açucar", incapazes de uma decisão/escolha política, sujeitas aos ditames dos interesses capitalistas, vivendo o imediato e com sonhos limitados. Exagerei? Talvez. Espero bem que sim. Não gosto de sociedades divididas, nem tão pouco das tais "lutas de classes" que a pouco mais levam do que a renovados "Triunfos dos Porcos". Apenas gostava que a tal "Alegoria da Caverna" de Platão fosse coisa do passado e que a todos fosse dada a luz do Iluminismo.

Misha Gordin

sexta-feira, setembro 08, 2006

Sem palavras

Voltei, sem nunca ter ido.


Foi um repente, aquele, em que o improvável aconteceu. De um dia para o outro a mudança, brusca, radical, e a ansiedade do recomeço tão desejado.
Há vidas que são autênticas estradas em linha recta, sem grandes acidentes de percurso ou encruzilhadas. Nessas, as mudanças são ténues, naturais, previsíveis. Mas outras vidas há que, de um percurso linear e previsível, passam num instante pelo inimaginável caminho que não se deseja a ninguém. Sofre-se. Habituamo-nos. Deixamos de acreditar. Uns entregam-se ao desespero. Outros sublimam-se, fogem, voam através do pensamento, da arte, da escrita com ou sem ela (a arte). Nascem blogues, nascem pinturas, nascem pensamentos filosóficos ou disparates pegados. Mas...nasce.
Comigo nasceram dois blogues. O improvável aconteceu, o desejo tornou-se realidade e explodi em fragmentos de uma felicidade desorientada. Houve que repensar, reordenar, recomeçar uma vida que estava em modo pausa há demasiado tempo. Voltei!A reconstrução está em curso e o equilíbrio reencontrado.