sexta-feira, março 17, 2006

O Herói

Desengane-se quem pense que vou aqui falar dos "desgraçados" que preenchem os noticiários das 21 horas e os cabeçalhos do "Correio da Manhã", ou ainda dos que fazem estremecer de emoção os adeptos da bola e das telenovelas. Basicamente não vou falar de ninguém em concreto, mas sim desse arquétipo que tem povoado o nosso imaginário ao longo dos tempos - o HERÓI.
Em todas as épocas da História o Ser Humano tem criado personagens simbólicas que correspondem, no palco de uma vida nem sempre fácil e limitada, às suas aspirações de excelência e notoriedade. É assim que surge a figura do herói, aquele que dotado de qualidades excepcionais , solitário na sua demanda, supera o insuperável.
O primeiro herói de que há memória escrita foi Gilgamesh e a sua epopeia chegou até nós através de um poema épico sumério com cerca de 5000 anos. Gilgamesh tinha os atributos desejados - força, beleza e coragem. Exemplo de perfeição e por isso mesmo muito além do humano (2/3 divindade e 1/3 homem), procurou alcançar a imortalidade, mas sem sucesso - já então um velho problema sem solução.
Ao longo da Antiguidade e sempre no quadro do que eram as expectativas humanas, desfilaram Hércules, Aquiles e Ulisses...Mais tarde Lancelot, Perceval, Artur e a busca do Santo Graal...e por aí fora.
Chegámos ao presente e o herói mudou a sua forma convertendo-se no super-herói. Dotado da mesma coragem dos seus antecessores, este último possui poderes sobre-humanos e enfrenta, não sem grandes dramas pessoais, os perigos que ameaçam a civilização ocidental - criminalidade, terrorismo, invasões extra-terrestres, virus implacáveis, clonagens e ditaduras.
É o século XX que lança o primeiro super-herói. Em 1939, vindo de Kripton surge o Super-Homem. No mesmo ano começava a II Guerra Mundial. Terá sido por acaso?
O início do nosso século tem sido marcado pela ascensão dos super-heróis. Recorrendo às "velhas" bandas desenhadas e aos filmes de animação, os produtores de cinema e os criadores de jogos virtuais (vice-versa) recorrem aos mesmos arquétipos, mas em cenários diferentes. O paradigma mantém-se - força, coragem, beleza - num mundo de múltiplos perigos. Mas também violência gratuita, mortes em barda e sangue até mais não. Aqui, neste novo mundo, a vida humana não tem qualquer valor...é matar ou morrer.
(continua...)

4 Comments:

At sexta-feira, 17 março, 2006, Blogger Teresa Durães said...

Uma pergunta (se não me falha a memória). Perceval não era herói arquétipo, pois não? Não era belo, nem heróico nem forte. Apenas tinha como qualidade a "pureza de coração".

Um outro ponto. Penso que na época actual o herói transformou-se. Continua forte, heróico mas já não precisa de ser belo. Mas aqui tenho a certeza que a opinião deverá dividir-se.

 
At sábado, 18 março, 2006, Blogger Maeve said...

Porque razão Perceval não pode ser considerado um herói arquétipo? Por não ser belo? De facto ele não se torna cavaleiro para realizar façanhas militares e a sua missão, bem mais importante, é encontrar encontrar o Graal.O caminho que tem de percorrer é difícil e não se resolve através da força física ou da destreza no uso das armas, pois realiza-se no plano espiritual. Quanto ao não ser herói arquétipo, bom...é melhor irmos há definição de herói:http://pt.wikipedia.org/wiki/Her%C3%B3i. Espero que esta sirva.

 
At sábado, 18 março, 2006, Blogger Teresa Durães said...

Esta é mesmo uma dúvida minha. Confesso que, mesmo indo ao link que me indicou e com a memória que tenho do ciclo arturiano, não fiquei esclarecida.

Não é pelo facto de Percival ser ou não belo que tenho dúvidas. Por isso iniciei o debate com vontade que, através do diálogo, me mostrasse o seu ponto de vista.

No herói arquétipo são precisas várias qualidades?

Diciopédia 2005

arquétipo


substantivo masculino


1. modelo; protótipo; paradigma;

2. FILOSOFIA (Platão) tipo ideal e supremo de que as coisas concretas são cópias;

3. LITERATURA manuscrito de que derivam outros textos;

4. plural PSICOLOGIA (Jung) imagens e símbolos ancestrais que formam, no seu conjunto, o inconsciente colectivo de um povo e se revelam nos contos, lendas populares e tradições;


(Do gr. arkhétypon, «modelo; tipo primitivo», pelo lat. archet]pu-, «id.»)

© 2004 Porto Editora, Lda.


(assim era mais simples!)~

Diciopédia 2005

herói


substantivo masculino


1. indivíduo que se destaca por um acto de extraordinária coragem, valentia, força de carácter, ou outra qualidade considerada notável;

2. aquele que é admirado por qualquer motivo, constituindo o centro das atenções;

3. CINEMA, LITERATURA protagonista;

4. MITOLOGIA personagem nascida de um ser divino e outro mortal;


(Do gr. héros, «chefe», pelo lat. heróe-, «herói; homem célebre»)

© 2004 Porto Editora, Lda.


(este dicionário/enciclopédia é fraquinha mas, enfim... tenho aqui bem à mão)

Pela mesma...

Parsifal:

O Roman du Graal, adaptado por Thomas Malory, teve a sua última publicação em 1485 por William Caxton; este facto explica a maior divulgação da lenda que tem Parsifal como protagonista.

Aqui define que Parsifal (tal como as minhas memórias o viam)

"(...) , mas pelos sonhos, que se reflectem nos três estados místicos descritos por São Bernardo de Clairvaux."

Por este ponto talvez seja a nossa divergência de opiniões, ou seja, eu estja a ver Parsival como um místico, e a Maeve esteja a basear-se numa outra versão do ciclo arturiano.

 
At sábado, 18 março, 2006, Blogger Teresa Durães said...

P.S Esta não é, definitivamente, uma área que domine. Estou sempre aberta (mais do que isso, sempre pronta) a aprender.

 

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