segunda-feira, abril 17, 2006

Carmelinda Maria e o gato


Lapa, 1954

Carmelinda Maria agarra o gato. Sorri sem grande vontade enquanto o bichano esperneia. O fotógrafo é persistente e teima:"Aguente...aguente."

Carmelinda Maria não cai do parapeito onde está sentada. Nem nunca caiu ao longo da vida. Passou por muitas ruas, algumas vazias como a que lhe serviu de cenário com o tareco...mas nunca caiu.

Carmelinda Maria não foi feliz, nem nunca o foi. Apenas conheceu breves momentos de contentamento, feitos de sonhos e teimosia. Nos entretantos, berrou a sua insatisfação aos quatro ventos, deixou milhentos pratos por lavar e bateu o pé sempre que pode e não pode.

Carmelinda Maria, costureirinha, bailarina em tempos vagos, matriarca feroz, foi cremada no dia 1 de Setembro de 2005. O gato finou-se muitos anos antes, chamava-se Sansão e serviu de adubo no Jardim da Estrela.

1 Comments:

At terça-feira, 18 abril, 2006, Blogger Teresa Durães said...

Foi mais uma mulher portuguesa que resmungou aos quatro ventos e vingou-se na louça?

 

Enviar um comentário

<< Home