Carmelinda Maria e o gato
Carmelinda Maria agarra o gato. Sorri sem grande vontade enquanto o bichano esperneia. O fotógrafo é persistente e teima:"Aguente...aguente."
Carmelinda Maria não cai do parapeito onde está sentada. Nem nunca caiu ao longo da vida. Passou por muitas ruas, algumas vazias como a que lhe serviu de cenário com o tareco...mas nunca caiu.
Carmelinda Maria não foi feliz, nem nunca o foi. Apenas conheceu breves momentos de contentamento, feitos de sonhos e teimosia. Nos entretantos, berrou a sua insatisfação aos quatro ventos, deixou milhentos pratos por lavar e bateu o pé sempre que pode e não pode.
Carmelinda Maria, costureirinha, bailarina em tempos vagos, matriarca feroz, foi cremada no dia 1 de Setembro de 2005. O gato finou-se muitos anos antes, chamava-se Sansão e serviu de adubo no Jardim da Estrela.
1 Comments:
Foi mais uma mulher portuguesa que resmungou aos quatro ventos e vingou-se na louça?
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