segunda-feira, maio 29, 2006

Arte é para quem a vê

Há uns anos atrás, numa daquelas idas a uma exposição de arte contemporânea (pintura e escultura), aproximei-me de um quadro que me deixou algo intrigada. A dita "obra de arte" consistia numa tela talvez de metro e meio por outro metro (na volta era maior, já não sei) e era inteiramente azul, de um azul céu sem nuances, sem mais nada, lisinho. Quase no canto superior esquerdo da tela um golpe em L e uma saliência, um bico de tela sobressaindo como se alguém ali tivesse tentado extrair qualquer coisa. Mais nada, a não ser algumas pessoas em estado de admiração profunda. Na minha inocência de juventude perversa saiu-me um comentário em voz alta: "Chamam a isto de arte?" Foi infeliz. Principalmente porque me teria poupado aos olhares de desdém que recebi e há sensação de ser uma tremenda inculta, senão mesmo boçal, em matéria de artes plásticas. Foi um engano pois, muito provavelmente, outros como eu viram naquele quadro uma valente porcaria, um nada sem nada. Mas, quantos tiveram a coragem de o afirmar? É que por vezes apresentar uma certa postura de entendimento e agrado, perante o que não se gosta e/ou não se compreende, faz parte de um esquema de conduta para quem deseja ser aceite num determinado grupo social, cultural e por aí fora.
Uma escultura, uma música, um texto (para não falar de outras criações humanas) só ascendem à categoria de objecto de arte se dessa forma forem sentidos - alguns conquistam a maioria, outros só um reduzido grupo aprecia ou faz de conta que aprecia, impondo às ignaras gentes o novo valor artístico. Arte é para a quem a vê, sente, como tal.

Já agora, detesto Picasso.

1 Comments:

At terça-feira, 30 maio, 2006, Blogger Teresa Durães said...

:) há umas assim!

pois eu lembro de uma que era uma janela e atrás uma tempestade.

só isto.

fiquei fascinada!

 

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