Coragem onde te deixei?
Algures, num canto qualquer da minha vida, acabei por deixar a necessária paciência para aturar as filas de espera, a infindável complicação burocrática deste país, o imposto sobre veículos que mesmo a cair de podres,como é o caso do meu, pagam pelo 1º escalão (ai quem me dera ter um carro com 20 anos e cartão de cliente na oficina!).
Dizem que com a idade nos tornamos mais pacientes, que levamos a coisa com outra calma. Comigo não funciona assim. Mas enervar-me, barafustar, também não me leva a nada e nem de TGV me safo! A resposta perante o meu alarido é sempre a mesma: "É assim. Que havemos de fazer?!" Paciência e conformismo. Os agitadores não são bem vindos, a bem da paz social.
Hoje assisti a uma cena numa agência da Caixa Geral de Depósitos que me deixou siderada. Como já vem sendo habitual a fila para os balcões de atendimento era extensa e o andamento lentíssimo. Ali sofre-se. No Cacém existem 4 agências da CGD e em todas o panorama é o mesmo - filas, espera e carradas de paciência. Mas, eis que num repente, um senhor dos seus 50 e tal anos tem um momento de desabafo intempestivo - dá um pulinho, esbraceja e berra: "Estou farto desta pouca vergonha...não metem pessoal e é este inferno! Vou mudar de banco." (também eu queria..!) E ali vai ele, porta fora. A reacção do público sofredor foi interessante - não se ouvio uma única palavra de concordância, nem um "...tem toda a razão, isto é uma pouca vergonha"; trocaram-se olhares entendidos, sorrisos condescendentes, suspiro aqui ou ali, "Está desorientado o homem...", ouviu-se. Quais carneiros conformados para ali ficamos e ninguém, inclusivé eu, avançou para o livro de reclamações.
Onde está a nossa, minha coragem, para agir perante o que não está correcto? Esta historieta na CGD é apenas um pálido exemplo de tudo o que, de cabeça sempre vergada, aturamos no nosso quotidiano - seja isso fruto da inoperância dos serviços ditos públicos, seja isso pura e simplesmente fruto do sistema económico-social em que vivemos ou do mundo urbano a que estamos submetidos. Até na família, a bem da paz e da harmonia, quantas vezes calamos e aceitamos um rumo de vida que não é o nosso?
Bom...hoje estou com a telha, decididamente!
3 Comments:
(este post é de ontem e não o vi... como se cá vim?)
É nisto que contesto o português... prefere ir de joelhos a Fátima do que refilar...
contra-luz, isso de exigir a felicidade passa precisamente por termos a coragem de falar e agir perante o que consideramos incorrecto e/ou injusto. O problema residirá apenas no decidir se o que é justo e certo para mim, será também para os outros - o que não se aplica a este post..lol
O português vai a Fátima agradecer, o facto do vendaval só lhe ter levado o telhado da casa e não a casa toda.
Assim como, ao esperar uma hora numa fila, fica feliz por não ter esperado duas horas.
Graças a Deus, somos um povo muito optimista ;))
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