quarta-feira, março 05, 2008

Desemprego de licenciados versus "formação" compulsiva.

A precaridade dos vínculos laborais atinge cada vez mais portugueses e o conceito de emprego tende a ser substituído pelo de trabalho, bem como o de funcionário por colaborador; as formas de contratação e até mesmo as políticas governamentais favorecem essa mesma precaridade. Até aqui nada de novo. Mas, qual o destino daquele que perde o seu posto de trabalho ou, até mesmo, daquele que procura o seu primeiro emprego...perdão, trabalho? A primeira coisa a fazer é inscrever-se num Centro de Emprego - obrigatório para quem queira usufruir do subsídio de desemprego; natural para quem tem a esperança de obter trabalho ou uma qualquer orientação no sentido de favorecer a sua empregabilidade. O que acontece depois da dita inscrição? Só posso referir o caso dos activos qualificados, licenciados ou bacharéis, porque é o que conheço de perto e acredito que muitos se irão rever naquilo que vou aqui a narrar.

Um belo dia recebemos uma cartinha em casa a convocar-nos para uma reunião no Centro de Emprego (1), reunião essa que engloba vários licenciados e que se realiza de forma rápida e eficiente, com um despejar de cursos para "activos qualificados" promovidos pelo IEFP. Digo despejar, porque explicações sobre o referencial dos ditos cursos não as há, nem tão pouco horários da sua realização. De igual modo não é estabelecido um perfil do licenciado, não importa a área de estudos que possui, nem é feito um despiste das suas necessidades de formação, se as houver. Pede-se, apenas, que olhemos para os módulos de formação que compõem os vários cursos e que façamos uma escolha. Essa escolha é obrigatória para aqueles que beneficiam do subsídio de desemprego, logo, a não aceitação de um um curso implica a perda do mesmo. Por isso há que escolher, mesmo que os referidos cursos não interessem para nada.
As opiniões àcerca destes cursos do IEFP variam consoante a situação do desempregado - há aqueles que consideram uma mais valia porque, afinal, trata-se de formação de borla e ainda por cima com uma bolsa de formação no valor de cerca de 200€ (apetecível para quem não tem subsídio de desemprego, dado que aos restantes a mesma é descontada ao dito); depois há os outros que ainda têm a esperança que o referido curso lhes traga a hipótese de saírem da situação em que se encontram; finalmente há os mais do que batidos nisto, que já fizeram vários cursos e que fazer mais um ou menos um sempre é melhor do que ir bater cartas para um jardim público.
Mas que cursos são esses e que valor têm? Os cursos têm nomes pomposos e vagos e são invariavelmente os mesmos de alguns anos a esta parte: "Gestão de Microempresas"; "Gestão de Instituições Sociais"; "Novas Tecnologias aplicadas à gestão Empresarial", etc, etc. O seu significado é quase nulo e lança a confusão em potenciais empregadores, até porque a panóplia de conteúdos programáticos é, muitas vezes, um bocadinho disto e daquilo, resultando em nada de concreto. A empregabilidade no final destes cursos é praticamente nula (salvo se houver a bendita cunha, claro está).
Voltando aos potenciais formandos, ditos activos qualificados desempregados, uma dúvida se impõe - se já de si muitos são rejeitados pelo mercado de trabalho por excesso de habilitações, para que servem afinal estes cursos imprecisos e impostos? A resposta é simples - retiram automaticamante números das estatísticas de desemprego e fornecem dinheiros comunitários a uma catrefada de gente (formadores, coordenadores de formação, mulheres da limpeza e afins) que de outro modo não teriam outro remédio senão recorrer à Segurança Social. Ou seja, os miseráveis vivem à conta de outros tantos miseráveis e só aos ingénuos escapa este processo de "ecossistema neo-liberal".

(1) Centro de Emprego de Sintra

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