domingo, maio 25, 2008

Para quando uma andorinha?

Ainda não as vi este ano, as andorinhas. Oiço o piar de outras aves, das persistentes, das que se alegram ao mínimo raio de sol, mas das que já deviam cá estar...nada!


A andorinha é uma ave migratória que se desloca para sul, rumo a África, quando o Outono se avizinha e o frio ameaça. O seu regresso, dizem, é sinal de tempo ameno, de céu azul e aragem morna. Para mim é o símbolo de um novo ciclo da vida e sinónimo daquela alegria inexplicável que por vezes se sente sem motivo aparente.


Em pequena aprendi que a Primavera só chegava verdadeiramente com a primeira andorinha e essa certeza acompanhou-me até aos dias de hoje. Recordo manhãs ensolaradas, telhados cor de tijolo a recortar um azul puríssimo e de as ver, asas abertas, escuras, caudas bifurcadas, determinadas, em voos urgentes. Ao longo dos anos fui esperando por elas e pela paz que sinto quando dou conta que chegaram. Não sei explicar o porquê deste sentimento, nem tão pouco isso me preocupa. O que me preocupa sim, é estarmos em Maio, quase finais, e delas nem rasto.




sexta-feira, maio 23, 2008

OPAAFTF-2ª Parte e última

Foram 3 meses de "formação" teórica de má qualidade. A minha turma ficou assinalada como inconveniente. Nada de mais. Segundo palavras da assistente social (há 3 anos a recibos verdes), os activos qualificados são detestados no centro de formação. Porque será? Como professora sei ver quando um formador está ou não preparado para dar a sua aula, se sabe do que está a falar, se investe naquilo que está a fazer, se tem preparação pedagógica. Escaparam uns 2 formadores, porque o resto foi o descalabro!
Arrastei-me, diariamente, para perder o meu tempo e até à data nem sei bem definir o que andei ali a fazer. Mas, todo o mal fosse esse. O que se seguiu foi ainda pior - o estágio.
Os estágios nada mais são que um fornecimento de mão-de-obra gratuita às organizações. Dizem os vendedores da banha da cobra, vulgo toda essa gente que anda comer à conta destes cursos da treta, que os estágios têm por objectivo último que o estagiário seja contratado pela empresa que o acolhe. A realidade é outra.
Fui parar à FDTI - Fundação para a Divulgação das Tecnologias da Informação. Um nome de peso, sem dúvida, mas de resto... Nem o coordenador do meu curso se tinha dado ao trabalho de reunir com quem me iria receber, para explicar os objectivos do estágio e estabelecer um plano; nem a entidade que me recebeu se preocupou minimamente em se inteirar de fosse do que fosse. Simplesmente fui posta como auxiliar administrativa. Durante um mês atendi pessoas, passei chamadas e arranjei lombadas de arquivadores. É claro que, com jeitinho, lá tentei explicar que não era bem para isso que eu estava ali, que era suposto eu envolver-me na formação, que tinha um projecto para apresentar, etc, etc. A resposta teve piada (na altura não achei): "Quando você está a dar aos clientes a informação sobre os preços dos cursos, está a fazer planificação da formação."
Um mês disto e lá fui ao "meu" coordenador de curso, dizer que aquilo não estava correcto e que ia contra o estabelecido no contrato de formação. O homem ficou muito incomodado...que era um problema enorme estar a mudar um estagiário de sítio, que caía mal. A coisa lá se resolveu, mas muito custo. Acabei por ir parar a uma instituição mais simpática, embora totalmente falida, onde realmente planifiquei e dei formação. Mas mesmo assim não aprendi nada de novo, pois limitei-me a aplicar o que já sabia.
Tudo terminou a 14 de Maio. Estou livre, finalmente! Sinto um alívio enorme. Curiosamente não faço a mínima ideia da nota que tive. Não sei que classificação foi atribuída ao meu projecto final e desconheço uma boa parte das notas que eventualmente terei tido nalguns dos módulos teóricos do curso. Nem eu sei, nem ninguém daqueles que gramaram isto comigo. Não nos foi entregue qualquer certificado, pois o coordenador do curso disse que não tinha tempo, nem conhecia o modelo...talvez dali a uns 15 dias o tivesse pronto.
Resta acrescentar que falei com uma amiga, que trabalha no Ministério do Trabalho e que, curiosamente, participa nas auditorias aos centros de formação do IEFP. Por acaso nunca tinha dado conta desta enorme incompetência...(devo rir ou chorar?!).
Bom, já passou. Saí do limbo. Só lamento que muitos outros sejam enviados para este e outros cursos sem sentidoe apenas para garantir os salários daquela gente e aliviar as estatísticas do desemprego.

quarta-feira, março 05, 2008

OPAAFTF - 1ª parte


OPAAFTF são as estranhas iniciais de um curso não menos estranho do IEFP, para activos qualificados, que dá pelo nome de "Orientação Pedagógica, Acompanhamento e Avaliação na Função do Tutor da Formação". O referencial deste curso, composto por mais de 50 páginas, encontra-se no portal do IEFP e data de 2004, sem que qualquer alteração tenha sido introduzida até ao momento. O curso, em linhas muito breves, é um misto de formação de formadores, funcionamento das organizações e gestão da formação e possui um percurso formativo de 800 horas, 400 delas em contexto de trabalho (estágio). Os conteúdos programáticos de cada módulo são vastos e cada formador trabalha-os conforme entende, quando entende. Acima dos formadores há um coordenador do curso, com funções burocráticas e que na prática dá apenas seguimento a papeladas dos formandos - recibos de despesas, justificações de faltas, etc -, mas que em termos pedagógicos não faz absolutamente nada. Penso que devo ser mais clara e é o que vou fazer.

Nos finais de Outubro, por indicação do Centro de Emprego de Sintra, fui remetida para um curso para activos qualificados do IEFP que iria realizar-se no Centro de Formação Profissional da Amadora. No local e em entrevista com o "psicólogo" de serviço - Dr. Amadu Djaló - verifiquei que o horário do referido curso (das 14h às 20h) me colocava sérios problemas - sou mãe divorciada e não existe nenhum ATL na minha área de residência que fique com crianças até às 21h, hora a que chegaria a casa. Perante este problema e dado que estes cursos não são programados tendo em conta a existência de vida para além do desemprego, o referido "psicólogo" disse-me que teria de aceitar outro curso qualquer, sob pena de perder o subsídio de desemprego. A solução foi enfiarem-me no OPAAFTF, que iria começar dentro de poucos dias e cujo horário, das 8h às 14h, me permitiria continuar a acompanhar as filhas. Foi assim que ingressei neste curso, a despeito da minha formação e experiência profissionais - professora profissionalizada, com largos anos de experiência, e webdesigner - por receio de perder o subsídio de desemprego. Verdade seja dita que o referido curso nada me dizia, nem tão pouco acrescentava...mas isso não era importante para aqueles que me obrigavam a fazê-lo. Era apenas necessário que os precisos burocráticos se desenrolassem sem grandes chatices para os responsáveis do IEFP. E assim foi. Lá malhei no OPAAFTF, sem apelo nem agravo!

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Desemprego de licenciados versus "formação" compulsiva.

A precaridade dos vínculos laborais atinge cada vez mais portugueses e o conceito de emprego tende a ser substituído pelo de trabalho, bem como o de funcionário por colaborador; as formas de contratação e até mesmo as políticas governamentais favorecem essa mesma precaridade. Até aqui nada de novo. Mas, qual o destino daquele que perde o seu posto de trabalho ou, até mesmo, daquele que procura o seu primeiro emprego...perdão, trabalho? A primeira coisa a fazer é inscrever-se num Centro de Emprego - obrigatório para quem queira usufruir do subsídio de desemprego; natural para quem tem a esperança de obter trabalho ou uma qualquer orientação no sentido de favorecer a sua empregabilidade. O que acontece depois da dita inscrição? Só posso referir o caso dos activos qualificados, licenciados ou bacharéis, porque é o que conheço de perto e acredito que muitos se irão rever naquilo que vou aqui a narrar.

Um belo dia recebemos uma cartinha em casa a convocar-nos para uma reunião no Centro de Emprego (1), reunião essa que engloba vários licenciados e que se realiza de forma rápida e eficiente, com um despejar de cursos para "activos qualificados" promovidos pelo IEFP. Digo despejar, porque explicações sobre o referencial dos ditos cursos não as há, nem tão pouco horários da sua realização. De igual modo não é estabelecido um perfil do licenciado, não importa a área de estudos que possui, nem é feito um despiste das suas necessidades de formação, se as houver. Pede-se, apenas, que olhemos para os módulos de formação que compõem os vários cursos e que façamos uma escolha. Essa escolha é obrigatória para aqueles que beneficiam do subsídio de desemprego, logo, a não aceitação de um um curso implica a perda do mesmo. Por isso há que escolher, mesmo que os referidos cursos não interessem para nada.
As opiniões àcerca destes cursos do IEFP variam consoante a situação do desempregado - há aqueles que consideram uma mais valia porque, afinal, trata-se de formação de borla e ainda por cima com uma bolsa de formação no valor de cerca de 200€ (apetecível para quem não tem subsídio de desemprego, dado que aos restantes a mesma é descontada ao dito); depois há os outros que ainda têm a esperança que o referido curso lhes traga a hipótese de saírem da situação em que se encontram; finalmente há os mais do que batidos nisto, que já fizeram vários cursos e que fazer mais um ou menos um sempre é melhor do que ir bater cartas para um jardim público.
Mas que cursos são esses e que valor têm? Os cursos têm nomes pomposos e vagos e são invariavelmente os mesmos de alguns anos a esta parte: "Gestão de Microempresas"; "Gestão de Instituições Sociais"; "Novas Tecnologias aplicadas à gestão Empresarial", etc, etc. O seu significado é quase nulo e lança a confusão em potenciais empregadores, até porque a panóplia de conteúdos programáticos é, muitas vezes, um bocadinho disto e daquilo, resultando em nada de concreto. A empregabilidade no final destes cursos é praticamente nula (salvo se houver a bendita cunha, claro está).
Voltando aos potenciais formandos, ditos activos qualificados desempregados, uma dúvida se impõe - se já de si muitos são rejeitados pelo mercado de trabalho por excesso de habilitações, para que servem afinal estes cursos imprecisos e impostos? A resposta é simples - retiram automaticamante números das estatísticas de desemprego e fornecem dinheiros comunitários a uma catrefada de gente (formadores, coordenadores de formação, mulheres da limpeza e afins) que de outro modo não teriam outro remédio senão recorrer à Segurança Social. Ou seja, os miseráveis vivem à conta de outros tantos miseráveis e só aos ingénuos escapa este processo de "ecossistema neo-liberal".

(1) Centro de Emprego de Sintra

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