
Desengane-se quem pense que vou aqui falar dos "desgraçados" que preenchem os noticiários das 21 horas e os cabeçalhos do "Correio da Manhã", ou ainda dos que fazem estremecer de emoção os adeptos da bola e das telenovelas. Basicamente não vou falar de ninguém em concreto, mas sim desse arquétipo que tem povoado o nosso imaginário ao longo dos tempos - o HERÓI.
Em todas as épocas da História o Ser Humano tem criado personagens simbólicas que correspondem, no palco de uma vida nem sempre fácil e limitada, às suas aspirações de excelência e notoriedade. É assim que surge a figura do herói, aquele que dotado de qualidades excepcionais , solitário na sua demanda, supera o insuperável.
O primeiro herói de que há memória escrita foi Gilgamesh e a sua epopeia chegou até nós através de um poema épico sumério com cerca de 5000 anos. Gilgamesh tinha os atributos desejados - força, beleza e coragem. Exemplo de perfeição e por isso mesmo muito além do humano (2/3 divindade e 1/3 homem), procurou alcançar a imortalidade, mas sem sucesso - já então um velho problema sem solução.
Ao longo da Antiguidade e sempre no quadro do que eram as expectativas humanas, desfilaram Hércules, Aquiles e Ulisses...Mais tarde Lancelot, Perceval, Artur e a busca do Santo Graal...e por aí fora.
Chegámos ao presente e o herói mudou a sua forma convertendo-se no super-herói. Dotado da mesma coragem dos seus antecessores, este último possui poderes sobre-humanos e enfrenta, não sem grandes dramas pessoais, os perigos que ameaçam a civilização ocidental - criminalidade, terrorismo, invasões extra-terrestres, virus implacáveis, clonagens e ditaduras.
É o século XX que lança o primeiro super-herói. Em 1939, vindo de Kripton surge o Super-Homem. No mesmo ano começava a II Guerra Mundial. Terá sido por acaso?
O início do nosso século tem sido marcado pela ascensão dos super-heróis. Recorrendo às "velhas" bandas desenhadas e aos filmes de animação, os produtores de cinema e os criadores de jogos virtuais (vice-versa) recorrem aos mesmos arquétipos, mas em cenários diferentes. O paradigma mantém-se - força, coragem, beleza - num mundo de múltiplos perigos. Mas também violência gratuita, mortes em barda e sangue até mais não. Aqui, neste novo mundo, a vida humana não tem qualquer valor...é matar ou morrer.
(continua...)