Ponto de não retorno?
Desengane-se quem pense que vou aqui falar dos "desgraçados" que preenchem os noticiários das 21 horas e os cabeçalhos do "Correio da Manhã", ou ainda dos que fazem estremecer de emoção os adeptos da bola e das telenovelas. Basicamente não vou falar de ninguém em concreto, mas sim desse arquétipo que tem povoado o nosso imaginário ao longo dos tempos - o HERÓI.
Seres fantásticos, imortais, entes supremos sem princípio nem fim que criam e destróiem segundo uma lógica que nos escapa. Deusas e deuses são a resposta às nossas limitações humanas, justificação dos nossos conceitos éticos, reflexo das nossas fraquezas e exemplos de uma perfeição desejada. Ao comentar o texto "As matriarcas - I", Teresa Durães levou-me a reflectir, uma vez mais, sobre a condição da mulher:
A propósito das "Crónicas de Nárnia"(ver Arquivo) recordei um outro clássico da literatura infanto-juvenil - "Curdie e a Princesa", do escocês George MacDonald (1824-1905), publicado pela primeira vez em 1883. O livro em causa é a continuação de um outro, "A princesa e os duendes"(1872), e ambos povoaram com o seu fantástico os sonhos da minha infância. Mas, uma vez mais e à semelhança do que observei em Cecil S. Lewis, o final deste conto supostamente para crianças, contraria o habitual, pois não é de todo um final feliz. Aliás, ao longo de toda a narrativa, torna-se claro que a fantasia é apenas um outro cenário onde a condição humana, muitas vezes no seu pior, se revela.
"O leão, a feiticeira e o guarda-fatos" já não é novidade para ninguém. Na busca incessante do fantástico e dos grandes êxitos de bilheteira, Hollywood atacou os "velhos" autores - primeiro Tolkien e agora Clive S. Lewis, amigo do dito. E faz sentido. Faz sentido porque vivemos uma época em que já nem sabemos como sonhar e a fantasia se vai perdendo no meio da superficialidade a que este quotidiano neo-liberal nos conduz - que o digam as crianças e jovens de hoje.Não tive muito tempo, esta manhã, para ver com "olhos de ver" o que me rodeava. Zarpei para os tachos, ainda estremunhada, porque tinha de preparar o almoço que a minha filha mais nova havia de levar para o colégio. Nos entretantos dei conta do céu cinzento, de que ia chover e que se não chovesse seria exactamente a mesma coisa. O exactamente a mesma coisa deixou-me sem grande alento para o resto do dia.